Após o convite, foram dois anos de preparação, edição, formatos, reuniões, idas e vindas, rompimentos, negociações... No final, tudo certo. E sempre vale a pena.
Sem minha família, não conseguiria. Principalmente pela luta de minha mulher, Lisa. Ao apoio do Estúdio Lupa ( RJ ) e Laboratório 337 ( SP ). À insistência e força do amigo e fotógrafo Rodrigo Ribeiro. Ao amigo e mestre, sempre, Daniel Klajmic. À Galeria Tempo ( RJ ) pelo começo. A trilha sonora é do grande amigo Alexandre Duayer.
Aqui: o diálogo que une os homens aos Deuses. Ali: os mitos, eles mesmos, em outro ritual, o Carnaval. Aqui: as vozes e os ancestrais: qual o verdadeiro conhecimento do mundo? Ali: quem de nós ultrapassará os limites do transe? Para Cobrir o Silêncio, a série que o fotógrafo Marcelo Rangel produziu nos terreiros de candomblé e no barracão do G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro, no Rio de Janeiro, entre 2003 e 2007, reúne a simbologia dos orixás, o seu encantamento e os conduz para uma tradução material que esses mesmos mitos representam quando são incorporados ao enredo de uma escola de samba. Assim, vistos como matéria e músculos, ganham as ruas durante o Carnaval, afirmando-se numa única via tão religiosamente barroca e brasileira: o profano e o sagrado.
A procura de Marcelo Rangel leva sua fotografia para um infindável drama que nos identifica: Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? Reafirma um olhar desprovido de pretensão científica, mas denso em sua mais profunda expressão de “corpo e alma”; denso numa procura estética que se revela em toda a sua força; denso quando estende seu núcleo de interpretação para os domínios de Omolu, numa série de imagens onde, em alguns momentos mais abstrato e outros não, o orixá da doença e da cura torna ainda mais simbólica a representação entre o Aye (a Terra) e o Orum (o Céu).
Vistas com o olhar de quem olha para si mesmo; integradas à visão de um mundo afro-brasileiro perante o sagrado, as imagens eternizam um rito de passagem e algumas delas - apresentadas em dípticos e trípticos – unem-se ainda mais para instrumentar cada uma dessas representações míticas: a poéticas dos corpos no barracão onde se erguem as mãos para a escultura da ancestralidade; as filhas-de-santo arriadas aos pés do seu Deus/Orixá, num pedaço de chão, para clamar pelo “sonho da eternidade”. Quem de nós se arrisca a “esquecer” esse sonho? Qual de nós será capaz de trocar Deus pelo mundo da ciência?
Diógenes Moura Curador de Fotografia Pinacoteca do estado de São Paulo
Era um sonho dantesco... o tombadilho Que das luzernas avermelha o brilho. Em sangue a se banhar. Tinir de ferros... estalar de açoite... Legiões de homens negros como a noite, Horrendos a dançar...
Negras mulheres, suspendendo às tetas Magras crianças, cujas bocas pretas Rega o sangue das mães: Outras moças, mas nuas e espantadas, No turbilhão de espectros arrastadas, Em ânsia e mágoa vãs!
Se a fotografia é inscrever com a luz, Marcelo Rangel utiliza a arte da luminosidade para pintar, explorar as texturas e quase abstrair as imagens lhes dando um poder original e sincero. No detrás delas, revela o reino ilusionário dos deuses prontos para entrar no desfile do samba e povoar o imaginário do povo carioca. Os orixás que ele visiona atrás de um espelho e de paredes que o tempo teceu ferrugens, descasques e mofos, saem da mito-poética do candomblé para serem recriadas pelo popular nas fantásticas oficinas dos carros alegóricos. São tradições de fé que ameaçam desaparecer e com as quais Marcelo, antropolicamente se ocupa em transmutar mais do que documentar através da fotografia. O que já não era de todo ordinário, fica ainda mais perto do extraordinário. Marcelo vai além da ilusão da quarta-feira de cinzas quando toda a alegoria retorna ao galpão de origem para virar elementos de reciclagem para um outro carnaval. Ele fotografou o momento antes do esplendor do desfile e deu ainda momentos de glória ao eternizar estes deuses mais do que apenas recriá-los em inusitadas imagens. Há uma força pictórica imensa em suas fotos/pinturas e elas acendem em nossa imaginação algo que vai além do atlântico. O mar que aporta em nosso corpo/alma, nos faz recordar ao sabor de um ritmo e de um tempo ancestral, que somos deuses e esquecidos desta herança, por isso, vivemos a miséria de apenas poucos dias de sonho. As imagens sem tempo que Marcelo fabrica com a artezania do apuro e do afeto, nos coloca no espaço onde somos o sonho da eternidade.
In his eyes i saw an unspoken sadness. A silent pool of tears. So prominent it shook the sturdy ground beneath me. Invencible. I grew believing He was. But it is time. This is intolerant enemy. No always. No forever. If only one more day... Stay one more day...
Três décadas de má administração da segurança pública, o crescimento do tráfico de drogas e agora a expansão de milícias nas favelas. Como frear a violência em uma sociedade dominada pela exclusão e pelas desigualdades sociais ?
Em 2004 fui convidado pela Revista Trip para acompanhar o surfista australiano Tom Carroll, bicampeão mundial, em sua visita à favela da Rocinha, no Rio de Janeiro. Lógico que o choque cultural foi enorme e, toda hora, Tom perguntava como um povo podia viver feliz mergulhado em tanta pobreza. Diante de tantos contrastes, Tom não desgrudava de sua câmera e fotografava tudo o que via pela frente. Talvez tentando entender o que até hoje não conseguimos.
Tirar da rua a meninada e colocar no mar. Foi com esse objetivo que Ricardo Bocão concebeu o projeto de uma escolinha de surf para as crianças da favela. Por lá já passaram mais de 70 alunos, mesmo sem nenhum patrocínio. Ali, de maneira improvisada, Bocão ganha a vida consertando pranchas, equipamentos de surf e ate bermudas rasgadas.
Aqui vai um pouco de tudo... Fotografias, ensaios e algumas histórias. Sem muitas regras. Sem muita ordem. Passado, presente e futuro. O tempo aqui não é linear. Ele anda em círculo, sem começo nem fim. Apenas um escape...